Numa sociedade voltada ao fazer viver, à medicalização, à promoção da saúde, à juvenização, à beleza, à heteronormatividade, por exemplo, temas relacionados ao controle dos corpos e, nele, dos gêneros e das sexualidades, ganham espaço no cenário social. Não se pode desconsiderar que hoje a mídia tem ocupado destacado lugar como veículo dos discursos “verdadeiros” - médicos, religiosos, psicológicos, jurídicos, educacionais, dentre outros -, que, ao se correlacionarem em diversas instâncias sociais, integram os processos constitutivos das subjetividades e de controle dos corpos.

Ao mesmo tempo, o fluxo de informações e de tecnologias que atravessa a vida contemporânea vem gerando deslocamentos nos modos de pensar, desestabilizando certezas e criando condições para outros arranjos e tipos de relações entre os sujeitos e deles consigo mesmos; alteram-se as formas de entender a geração/criação da vida, o cuidar de si e do outro, o viver/morrer, os prazeres dos corpos, os riscos, os medos...

Desse modo, tornam-se necessárias análises e discussões críticas sobre as condições contemporâneas implicadas na fabricação dos corpos e dos modos de existência. Parece-nos oportuno socializar e colocar em discussão as experiências e pesquisas produzidas por profissionais que vêm desenvolvendo estudos que articulam as teorizações dos campos dos Estudos Culturais e da Educação – agregando, ainda, as contribuições da História do Corpo, dos Estudos da Ciência, da Saúde, dos Estudos Gays e Lésbicos, Estudos Negros e Educação Ambiental. Foi em meio a essas problematizações, e como forma de ampliá-las e colocá-las em circulação, que nasceu a ideia de se organizar um seminário que congregasse a discussão em torno dos Corpos, Gêneros e Sexualidades.

 As duas primeiras edições do evento – 2003 e 2005 – foram realizadas na cidade de Rio Grande e contaram com a participação dos grupos de pesquisa da UFRGS na organização e realização das atividades. Houve mais de 200 participantes em cada edição, o que nos permite afirmar que discussões como essas são de interesse de profissionais de áreas distintas. No segundo evento, em 2005, foi publicado o livro “Corpo, gênero e sexualidade: Problematizando práticas educativas e culturais”, organizado por Guiomar Freitas Soares, Méri Rosane Santos Silva e Paula Regina Costa Ribeiro, resultado das palestras dos/as convidados/as.

 A continuidade do evento se deu, em 2007, em Porto Alegre, com 500 participantes distribuídos entre estudantes, professores/as, pesquisadores/as e outros profissionais. Foi organizado o livro “Corpo, gênero e sexualidade: Discutindo práticas educativas”, por Paula Regina Costa Ribeiro, Méri Rosane Santos da Sinta , Nádia Geisa Souza, Silvana Goellner e Jane Felipe Souza.

A quarta edição aconteceu na FURG, em 2009, com a participação de mais de 600 inscritos. Neste evento também foi publicado um livro com as falas dos palestrantes, intitulado publicado “Corpo, gênero e sexualidade: Composição e desafios para a formação docente”, organizado por  Paula Regina Costa Ribeiro, Méri Rosane Santos da Sinta e Silvana Goellner.

Em 2011, o Seminário foi na Universidade Federal do Rio Grande e passou a ser considerado um evento internacional, pela consolidação da participação de palestrantes, de pesquisadores/as e discentes, bem como pela apresentação de trabalhos de outros países, principalmente da Região do Mercosul. A programação do evento contou com uma Conferência de Abertura e uma Mesa de Encerramento, duas Mesas Redondas (Instâncias e práticas de produção dos corpos, gêneros e sexualidades e Instâncias e práticas de produção dos corpos, gêneros e sexualidades: o Brasil na América Latina), além da apresentação de trabalhos (oral e pôster), em dez (10) eixos temáticos.

Nesse mesmo ano, também aconteceu o I Seminário Gênero e Diversidade da Escola – GDE, com objetivo de reunir todos os/as profissionais que atuam/atuaram no curso Gênero e Diversidade na Escola no Brasil, a fim de debaterem a respeito de suas experiências, produção de materiais, projetos de intervenção, entre outros aspectos. O GDE visa a formação de profissionais de educação da rede pública e aborda as temáticas de gênero, sexualidade e igualdade étnico-racial, e tem como objetivo promover conhecimentos acerca da promoção, respeito e valorização da diversidade étnico-racial, de orientação sexual e identidade de gênero, colaborando para o enfrentamento da violência sexista, étnico-racial e homofóbica no âmbito das escolas.

As modalidades de trabalhos foram: Pôster – para alunos/as de graduação e pós-graduação e professores/as apresentarem pesquisas e relatos de experiência, com envio de resumo expandido (até 3 páginas) – e Comunicação Oral – para pós-graduandos/as e pesquisadores/as apresentarem pesquisas concluídas ou em andamento, desde que apresentassem resultados, ainda que preliminares, com envio de resumo e artigo para publicação em e-book do evento. Além disso, foi publicado um livro impresso, “Corpo, gênero e sexualidade: Instâncias e práticas de produção nas políticas da própria vida” contendo as palestras proferidas durante o Seminário, o qual foi organizado por Paula Regina Costa Ribeiro e Luis Henrique Sacchi.

O evento realizado em 2011 buscou trazer para o cenário de debates as práticas em funcionamento em diversas instâncias sociais, implicadas na produção de políticas direcionadas ao controle do corpo e à regulamentação da vida. Neste sentido, o V Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade procurou discutir e problematizar o papel das práticas sociais na constituição dos corpos contemporâneos, enfatizando as práticas escolares e suas relações com a saúde, a beleza, a socialização e o trabalho. O seminário foi direcionado para professores/as das redes pública e particular de ensino, profissionais da área da saúde, pesquisadoras/es, estudantes de graduação e pós-graduação e demais profissionais interessados.

Em 2014, pela primeira vez os eventos ocorreram numa região e estado fora do sul do Brasil, reflexo de um movimento que se iniciou em 2011, quando o seminário adquiriu um caráter mais dinâmico e internacional, o que justifica sua circulação por outras cidades, facilitando a participação de pesquisadores/as de outras regiões. No entanto, há a preocupação de se manter uma continuidade com as edições anteriores, de maneira que não se perca a identidade que vem sendo construída. Assim, a UFLA, que já havia participado como organizadora na edição anterior, permanece como organizadora desta edição de 2014 juntamente com a UFJF, além da FURG e UFRGS.

Assim, em 2014 o Seminário teve lugar na Universidade Federal de Juiz de Fora, buscando consolidar a internacionalização do evento com a participação de pesquisadores (as)/palestrantes de fora do país, tanto de pesquisadores da Europa e de outros países da América Latina, bem como da participação de pesquisadores/as e discentes do Brasil e de outros países interessados no debate sobre corpo, gênero e sexualidade. Nesse ano, manteremos uma Conferência de Abertura e outra de Encerramento, além de duas Mesas Redondas.

Neste evento, algumas novidades aconteceram: a primeira diz respeito às formas de participação aberta a oportunidade de propostas para os eixos temáticos, que passarão pela avaliação de um comitê científico para depois serem definidas as que entrarão na programação dos eventos. A partir dessa definição dos eixos, os pesquisadores/as e alunos/as puderam participar em até duas formas daquelas previstas: apresentação de comunicação nos eixos temáticos estabelecidos, propostas de comunicações coordenadas sem vinculação com os eixos, elaboração de minicursos e oficinas, apresentação de pôster nos eixos temáticos e apresentação de trabalhos no campo cultural e artístico. Por último, as inscrições foram feitas com a submissão dos resumos expandidos para avaliação e posterior texto completo que compôs o e-book do evento. Além disso, foi publicado um livro impresso, “Corpo, gênero e sexualidade” com os textos dos participantes convidados para as conferências e mesas redondas, organizado por Anderson Ferrari, Cláudia Maria Ribeiro, Roney Polato de Castro e Vanderlei Barbosa.

Em 2018, o evento aconteceu novamente na Universidade Federal do Rio Grande - FURG, e terá como tema resistências e ocupa(ações) nos espaços de educação. A consolidação da internacionalização do evento se deu com a participação de pesquisadores/as/palestrantes de fora do país, bem como da participação de pesquisadores/as e alunos/as do Brasil e de outros países interessados no debate sobre corpos, gêneros e sexualidades. Cabe também salientar que foi a primeira vez que recebemos no Brasil o Seminário Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Género, Saúde e Sustentabilidade. As duas primeiras edições desse evento aconteceram na Universidade do Minho em Portugal. Além da publicação dos anais do evento foi lançado no evento o livro impresso “Corpo, gênero e sexualidade: resistência e ocupa(ações) nos espaços de educação” com os textos dos participantes convidados para as conferências e mesas redondas, organizado por Paula Regina Costa Ribeiro, Joanalira Corpes Magalhães, Fernando Seffner e Teresa Vilaça.

O VIII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, o IV Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade e o V Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Género, Saúde e Sustentabilidade, voltou a ser realizado em 2022, Devido a Pandemia da COVID-19 e os cortes de verbas da educação, optamos em realizar o Seminário de forma virtual, garantindo que o espaço de socialização e troca de experiências entre pesquisadores/as, professores/as, ativistas sejam garantidos para que o campo de pesquisas e teorizações de Corpo, Gênero e Sexualidade ampliado mesmo em condições adversas de neoconservadorismos e de trabalho remoto.

O Seminário apresenta como tema “Memórias, lutas e insurgências nas educações” para comemorar/rememorar os 20 anos de existência do grupo idealizador do Seminário - Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola (GESE), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). A história do GESE é marcada por memórias de lutas e insurgências nas educações atravessando a história da constituição do campo de discussão em torno das questões de Corpo, Gênero e Sexualidade. Na sociedade atual em que a história brasileira passa por um obscurantismo , promover o debate das questões de Corpo, Gênero e Sexualidade a partir do recorte histórico das lutas e insurgências nas múltiplas formas de constituição da educação, não só possibilita o registro, mas dá visibilidade para os espaços-tempos que produzem saberes, relações de poder e subjetivações outras que questionam os binarismos, a heteronormatividade, as políticas de morte de sujeitos que se insurgem contra a suposta normalidade de corpos, gêneros e sexualidades, constituindo assim outra estética se si, em que a potência de vida tenha mais importância.